Dono de tele-entrega de bebidas em Novo Hamburgo, o jovem casal foi tomado pelo medo, cancelou todos os pedidos e fechou rapidamente o negócio naquela madrugada. Os comerciantes receberam contatos pelo WhatsApp, em texto e áudio, de presidiário que exigia dinheiro sob ameaça de morte. “Foi aterrorizante”, recorda a proprietária. É mais um caso que oficialmente não existe, porque a vítima preferiu não fazer boletim de ocorrência, em meio a uma explosão de golpes com extorsão no Vale do Sinos. Ela garante que não pagou os bandidos.
Informações
“Meu namorado disse que não ia pagar. Ficamos muito apavorados e fechamos a loja, apesar dos pedidos de clientes em aberto, que tivemos que cancelar. Não conseguimos dormir naquela noite. Qualquer carro que passava na rua era motivo de apreensão”, conta a comerciante. Ela diz que começou a se acalmar quando foi pesquisar na Internet e viu que era golpe. “Daí não fizemos nada. Espero que mais ninguém passe por um susto e desespero desses.” As informações sobre a empresa, segundo ela, foram extraídas da Internet. “Ainda bem que não tinham fotos nossas, para nos amedrontar ainda mais, como fazem com outras vítimas.”
A estratégia dos vigaristas
Os golpistas rastreiam informações de empresas, em sites de buscas, e usam os dados para entrar em contato com elas. Se identificam como membros de facção, o que possivelmente sejam, e usam a estratégia de dizer que a vítima denunciou a organização criminosa. Para evitar vingança, é preciso fazer transferência bancária ou pix.
O valor é estipulado de acordo com a aparente capacidade financeira da empresa. “Serviu como aprendizado para cuidar das informações que colocamos sobre nós e a empresa na Internet, pois está cheio de gente mal intencionada no mundo”, comenta a comerciante hamburguense.
Estrutura na cadeia
Investigações apontam que os golpistas fazem pesquisa e triagem das vítimas de dentro dos presídios. Com internet e celular na cadeia, também mandam mensagens e ligam. A orientação da Polícia é que a vítima, além de não pagar os bandidos, registre ocorrência com todas as informações sobre eles, como número de telefone e dados do possível “laranja” que receberia o pagamento.
Os áudios
O criminoso entra em contato por telefone com código de área 81, de Pernambuco. O sotaque é nordestino. No perfil do WhatsApp, usa a imagem do personagem místico Zé Pelintra, que representa uma espécie de “malandro do bem”. O presidiário trata as vítimas com educação, sem deixar de ser assustador. Foi assim no caso da distribuidora de bebidas de Novo Hamburgo. Apavorado com os áudios, o dono tenta se explicar e depois recebe telefonema do presidiário, não gravado, com novas ameaças.
Golpista: Primeiramente, uma boa noite. Aqui quem fala é o Neguinho. Sô representante do BNC, bonde bala na cara, aliado do comando vermelho.
Golpista: Irmãos de São Jorge e Novo Hamburgo estão apontando a (nome da empresa) e que vocês andaram denunciando o nosso tráfico de drogas aí na região. E atrasa o lado de nossa família. Não estou aqui apenas para ouvir aqueles que estão apontando, mas também quero ouvir suas versões dos fatos. Deixe aqui seu comunicado. Seja claro e transparente.
Vítima: Opa, Neguinho, boa noite, tudo bem? Amigo, a gente não conhece nenhuma boca de fumo em Novo Hamburgo. Não entendi como a gente está denunciando se a gente nem conhece. Espero que tu converse com a pessoa q passou essa informação… porque a pessoa sabe nosso nome, conhece a gente?